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25 de Abril de 2024

O desafio de Moro e uma esperança para Lula

Publicado por Elder Nogueira
há 6 anos

A prisão de Lula, determinada na sequência do julgamento em que foi negado o habeas corpus ao ex-presidente, produziu divisões profundas no Supremo Tribunal Federal. As diferenças de posição são nítidas na composição das duas turmas da Corte.

Quatro dos cinco ministros da primeira turma votaram contra o recurso do petista no STF. A exceção é Marco Aurélio Mello. Na segunda turma, o cenário se inverte: quatro de seus cinco integrantes foram derrotados ao concederem o direito ao ex-presidente de responder ao processo em liberdade, ao menos antes da análise do caso pelo Superior Tribunal de Justiça.

É justamente no colegiado formado por Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Celso de Mello e Edson Fachin, único da turma a negar o recurso a Lula, que reside as maiores esperanças da defesa do ex-presidente no curto prazo. Fatos importantes ocorridos nesta terça-feira 24 indicam que a liberdade de atuação e interpretação do juiz Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato começam a ser revisadas no STF.

O principal movimento foi a decisão da segunda turma de retirar das mãos de Moro parte das delações da Odebrecht que citam Lula e enviá-las à Justiça de São Paulo. Mendes, Lewandowski e Toffoli entenderam que os trechos envolvendo o petista, incluindo relatos sobre a reforma do sítio de Atibaia e da aquisição de um terreno em São Bernardo para a construção da sede do instituto Lula, não tem qualquer relação com o esquema de desvios na Petrobras e, portanto, não devem ficar sob os cuidados do magistrado.

A defesa de Lula há muito argumenta que os casos do ex-presidente sob o controle de Moro deviam ser remetidos a outra vara por não terem relação com o esquema na estatal. Essa foi uma das teses principais dos advogados no processo do tríplex atribuído ao ex-presidente. O próprio Sérgio Moro concorda que o caso do apartamento do Guarujá não tem relação com a estatal.

“Este Juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-presidente”, escreveu o magistrado. “Nem a corrupção nem a lavagem, tendo por crime antecedente a corrupção, exigem ou exigiriam que os valores pagos ou ocultados fossem originários especificamente dos contratos da Petrobras."

Em 2015, Toffoli determinou que o juiz de Curitiba só poderia julgar ações relacionadas à estatal petroleira. Os novos casos que não estivessem ligados aos desvios na Petrobras deveriam ser remetidos para o local onde ocorreram os crimes. Era o caso do tríplex, que fica no Guarujá, em São Paulo, cujo suposto dono também reside no estado. Ainda assim, Moro manteve controle do processo.

A decisão da segunda turma sobre os casos do sítiio e do terreno pode não ser definitiva, mas demonstra como os humores mudaram após a prisão de Lula. Ao retirar trechos de delações da Odebrecht das mãos de Moro, os ministros esvaziaram ambos os processos, em grande parte fundamentos em delações premiadas de executivos da empreiteira.

O entendimento dos ministros pode resultar no envio das duas ações contra Lula ainda sob as mãos de Moro para a Justiça de São Paulo. Além disso, a defesa escaparia das apelações ao Tribunal Federal Regional da 4ª Região, que não apenas manteve a condenação de Moro contra o petista pelo tríplex, como aumentou sua pena para 12 anos e 1 mês de forma unânime.

Se Moro pode perder o controle das duas ações contra Lula, a defesa do petista agora enxerga uma brecha na mesma segunda turma para obter um novo recurso na Corte. Recentemente, o ministro Edson Fachin negou uma reclamação dos advogados do ex-presidente, segundo a qual o TRF4 não havia respeitado o fim do prazo para o esgotamento dos recursos antes de autorizar Moro a determinar a prisão do petista. Fachin remeteu o processo à segunda turma, que avaliará o recurso em breve.

Em evento em São Paulo, Mendes sugeriu que o recurso de Lula poderia estar" prejudicado ", pois o TRF4 já negou os embargos dos embargos do ex-presidente. O ministro deixou, porém, no ar a possibilidade de a defesa do petista ingressar com um novo habeas corpus e sugeriu que a decisão da segunda turma sobre o caso pode resultar na libertação do ex-presidente.

O julgamento deste recurso pelos cinco ministros deve ocorrer no início de maio, e se dará por meio de plenário virtual, quando eles encaminham seus votos ao sistema digital do STF.

Voto vencido na decisão que mandou retirar as delações da Odebrecht de Curitiba, Edson Fachin, relator da Lava Jato, terá dificuldades nos próximos meses para formar uma maioria favorável às suas posições na segunda turma. Na terça-feira 24, contou apenas com o apoio do decano Celso de Mello para tentar barrar a retirada dos processos das mãos de Moro.

Em setembro, a atual presidente do STF, Cármen Lúcia, passará a integrar a segunda turma, pois Toffoli assumirá a presidência da Corte em setembro. Fachin ganhará uma aliada em suas teses a partir do fim do ano no colegiado. Opositor das prisões em segunda instância, Toffoli não deve, porém, tardar para pautar um novo julgamento sobre as ações que questionam a prisão em segundo grau.

É cedo para saber o que ocorrerá daqui para frente com Moro, Lula e o STF. Mas é certo de que o julgamento do habeas corpus do ex-presidente produziu uma cisão na Corte, cujos efeitos são imprevisíveis.

Por Miguel Martins

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Hyago Otto, Oficial de Justiça
Artigoshá 8 anos

As provas contra Lula são ilícitas? São passíveis de anulação?

4 Comentários

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Certas figuras de proa da Justiça têm tomado medidas que, a par de contraditórias, seguem na contramão dos legítimos anseios por mais decência no trato da coisa pública. Algumas decisões ostentam, não raro, significado claro de apoio a velhos esquemas corruptos, como essa da 2ª Turma do STF de retirar do juiz Sérgio Moro trechos da delação de ex-executivos da construtora Odebrecht envolvendo Lula para enviá-los à Justiça de São Paulo.

Parece, portanto, que algumas autoridades não percebem que a opinião pública de hoje está muito mais bem informada do que nas décadas finais do século passado, graças aos avanços tecnológicos na área da informação e da ampliação do debate jurídico na mídia diversificada e nas redes sociais. Significativa parcela do povo está, por conseguinte, apta a distinguir quem trabalha em favor e quem conspira contra o verdadeiro interesse público. Não se consegue mais enganar a população como antigamente. Não obstante, há quem pense que pode dar corda para a defesa de ladrões de colarinho branco botar pressão sobre o heroico esforço de combate à corrupção, mediante sofismas que não se sustentam por mais de um minuto, como vem sendo amplamente demonstrado.

Se é certo, como diz o ditado, que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, também o é que o “buraco de hoje é mais embaixo” e pode se revelar uma vala gigante capaz de sepultar como lixo da história os resistentes patronos da impunidade. Todos os últimos acontecimentos têm sinalizado que isto tende a acontecer mais cedo do que se pensa. continuar lendo

Prece que causa mais medo/pavor/horror do que os criminosos comuns, as tentativas de aniquilar a justiça e o bom senso, por parte dos advogados da defesa e dos ministros, tanto do STJ como do STF.

Ações ardilosas e políticas, recursos e mais recursos para colocar em liberdade um criminoso que parece estar acima da lei.

Não bastam os gatunos, pois cada dia aparecem mais defensores dos tais.

Dá vergonha ler as notícias de política e da justiça brasileira após a posse do atual vice presidente em exercício como presidente.

Não crer em político não é de se estranhar, mas não crer na justiça é o fim.

Dá um sentimento de estar sendo achincalhado, escarnecido; isto para as pessoas honestas. continuar lendo

Pra julgar tem que ter Moral, senão será o imundo falando do mal lavado!!! Quem terá? o Moro? Ups!!! rsrs continuar lendo

Parece que não seria o homem mais honesto do Brasil, o dono dessa pseuda moral. continuar lendo