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24 de Abril de 2024

Veja alguns argumentos a favor ou contra a pena de morte no Brasil.

Publicado por Elder Nogueira
há 6 anos

A pena de morte ainda acontece em diversos países ao redor do mundo. Ela não ocorre no Brasil há muito tempo, mas os frequentes casos de violência fazem com que boa parte da população brasileira seja a favor da volta dessa forma de punição. Por isso, listamos os principais argumentos dos defensores e opositores do assunto no Brasil.

1. MAS ANTES, O QUE É PENA DE MORTE?

A pena de morte, também chamada pena capital, é um processo pelo qual uma pessoa é morta como punição por um crime cometido. Mas não é qualquer tipo de morte. Ela precisa ser realizada pelo Estado após decisão judicial, que condena uma pessoa à sentença de morte. É diferente de uma execução, que consiste na morte de uma pessoa sem processo legal que a autorize.

A pena de morte não é um instrumento novo no mundo. A execução de criminosos e opositores políticos foi utilizada em diversos momentos da história, inclusive no Brasil. Vamos entender o contexto da pena de morte no Brasil?

2. A PENA DE MORTE NO BRASIL

A última vez em que a pena de morte para crimes civis foi aplicada no Brasil foi em 1876, ficando oficialmente proibida após ser retirada do nosso Código Penal com a Proclamação da República em 1889.

Afirma Carlos Marchi, autor de um livro sobre a pena de morte no Brasil, que a principal finalidade da pena capital era reprimir e amedrontar os escravos. Por isso ela foi retirada do Código Penal após a Proclamação da República, já que um ano antes a escravidão havia sido abolida.

Essa mudança tornou o Brasil a segunda nação das Américas a abolir a pena de morte para crimes comuns, ficando atrás apenas da Costa Rica, que aboliu a pena capital em 1859. Isto quer dizer que a pena de morte foi completamente abolida no Brasil?

Não é bem assim! A pena capital é proibida pela lei brasileira em casos de crimes civis, mas a nossa Constituição permite que ela seja aplicada em casos de crimes cometidos em tempos de guerra. É o que diz o inciso 47 do artigo da nossa Constituição: “não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada”.

Os crimes que podem levar a essa punição estão escritos no Código Penal Militar e a pena prevista é execução por fuzilamento. Alguns exemplos desses crimes são:

  • traição (como pegar em armas contra o Brasil ou auxiliar o inimigo);
  • covardia (por exemplo fugir na presença do inimigo);
  • rebelar-se ou incitar a desobediência contra a hierarquia militar;
  • desertar ou abandonar o posto na frente do inimigo;
  • praticar genocídio;
  • crimes de roubo ou extorsão em zona de operações militares; entre outros

Ainda que a pena de morte em caso de guerras continue a existir no nosso ordenamento jurídico, ela nunca foi colocada em prática, nem mesmo na segunda guerra mundial, último conflito armado em que o Brasil se envolveu.

Durante o regime militar, um decreto chegou a restabelecer a pena de morte para crimes políticos violentos. Contudo, mesmo que alguns presos políticos tenham sido condenados, a pena capital nunca chegou a ser aplicada e nenhuma pessoa foi morta dentro dos limites do ordenamento jurídico.

3. ARGUMENTOS CONTRA E A FAVOR A PENA DE MORTE

Os constantes casos de violência colocam em questão se as punições aplicadas no país realmente são suficientes, principalmente para crimes considerados bastante graves. Ainda que o governo até então não tenha demonstrado interesse em recolocar a pena de morte no ordenamento jurídico, há quem defenda a volta dessa forma de punição.

Uma pesquisa realizada pelo DATAFOLHA, em setembro de 2014, revelou que 43% dos brasileiros é a favor da pena de morte, enquanto 52% se posicionaram contra. Muitos dos que se posicionam a favor utilizam como principal argumento que a pena de morte reduziria a violência no Brasil e diminuiria os gastos com ressocialização dos presos, uma medida que poucas vezes funciona. Para os favoráveis à pena de morte, ela é a única forma de garantir que criminosos não retornem à sociedade ou cometam outros crimes dentro da prisão.

Os que discordam dessa posição argumentam que a defesa da pena de morte no Brasil é guiada puramente por sentimento de vingança, sem qualquer motivação racional, o que faz com que a sociedade não perceba as desvantagens que a punição pode trazer, como desperdício de recursos que poderiam ser melhor utilizados na recuperação do preso.

Um estudo realizado com 67 pesquisadores estadunidenses, especialistas na temática da pena de morte, e publicado pelo Jornal de Lei Criminal e Criminologia da Universidade de Northwestern, em Chicago, mostra que para 88,2% deles, a pena de morte não tem qualquer impacto sobre os níveis de criminalidade. Para eles, não existem quaisquer dados ou estudos provando a relação entre a pena de morte e a diminuição da criminalidade.

Alguns destes especialistas defendem que a prisão perpétua seria uma melhor alternativa, por ser uma pena menos drástica, mas com igual capacidade de tirar da rua os criminosos mais perigosos.

Porém, um outro grupo de especialistas estadunidenses, formado principalmente por economistas, publicou uma série de trabalhos comparando o número de execuções em determinadas regiões dos Estados Unidos com seu histórico de homicídios. O resultado encontrado por um desses estudos, elaborado pelos economistas da Universidade de Houston Dale Cloninger e Roberto Marchesini, mostrou que cada execução realizada no estado do Texas evitou entre 11 e 18 homicídios durante o período analisado.

Para Joel Birman, psicanalista e professor da UERJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprovar a volta da pena de morte no Brasil é ignorar os diversos problemas sociais enfrentados no país.

Para ele, aqueles que defendem a pena de morte são pessoas pertencentes sobretudo às elites brasileiras, que ignoram o fato de já existir uma espécie de pena de morte no país, que é a violência diária que ocasiona diversas mortes entre as camadas mais pobres da população.

Portanto, enquanto os defensores da pena de morte afirmam que ela é a única solução para impedir que criminosos voltem a cometer crimes na sociedade, os que são contra a pena capital acreditam que ela não teria qualquer efeito, já que nenhum criminoso deixa de cometer um crime acreditando na possibilidade de ser punido. Para eles, o papel das prisões é ressocializar o preso, dando a ele chances de retorno ao convívio em sociedade.

4. PANORAMA DA PENA DE MORTE NO MUNDO

Ainda que a pena de morte seja repudiada por inúmeras organizações de Direitos Humanos do mundo todo, ela continua a ser uma prática em diversos países. Segundo relatório apresentado em 2016 ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 170 dos 193 países que integram a ONU já aboliram a pena de morte ou não a praticam mais há pelo menos 10 anos. Cerca de 102 deles já aboliram a pena capital em todos os tipos de crime.

Contudo, 23 países aplicaram a pena de morte em 2017. Os principais deles são Irã, Paquistão, Arábia Saudita e Iraque, que juntos foram responsáveis por 87% das práticas de pena de morte durante o ano. Acredita-se que a China seja a nação com maior número de aplicações da pena de morte, na casa de milhares, mas como o governo coloca os dados como secretos, a pena de morte do país não entra para as estatísticas.

Nos Estados Unidos a prática tem sido cada vez menos frequente. Entre os 31 estados onde a pena de morte ainda é legal, 10 renunciaram a esse tipo de punição. Dos 50 estados no país, 29 já não empregam mais a pena capital.

Os motivos que levam a uma pena de morte podem ser bem definidos ou abstratos, de acordo com a Constituição de cada país. Segundo a Anistia Internacional, os motivos mais recorrentes em 2016 foram crimes relacionados às drogas, sequestro, estupro, blasfêmia ou “insulto ao profeta do islã”.

Houve ainda casos de pena capital para espionagem, traição, colaboração com entidades estrangeiras, questionar políticas do líder local ou participação em movimentos de insurreição ou terrorismo. As execuções podem ser feitas de diversas formas, como enforcamento, apedrejamento, fuzilamento ou injeção letal.

Ao todo, foram registrados 1.032 aplicações de pena de morte em 2017, 37% a menos que no ano anterior. Ainda assim, existem hoje 18.848 pessoas no corredor da morte ao redor do mundo. Ainda que a pena de morte seja um processo legal nos países que a aplicam, diversas etapas são desrespeitadas durante esse procedimento.

A Anistia Internacional aponta como alguns dos problemas as confissões obtidas por meio de tortura, imposição de pena de morte automática para alguns tipos de crime, sem qualquer julgamento e diversos outros desrespeitos às regras firmadas por acordos internacionais.

E você, é a favor ou contra a pena de morte no Brasil? Deixe a sua opinião!


  • Sobre o autorEspecialista em Direito Processual Civil e Direito do Trânsito
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Um motivo lógico para você ser contra a pena de morte

57 Comentários

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Muito fácil ser contra... mas quem mata sem dó tem que morrer e fim! continuar lendo

Mas fazendo isso você não estaria exercendo o mesmo tipo de crime que muitos repudiam? Não seria melhor uma prisão perpétua? Pois claramente uma pessoa que faz isso não tem condições de viver em sociedade, desta forma ela poderá pensar e remoer todos os erros que cometeu o resto de sua vida longe de fazer mal a alguém. (estou fazendo uma pesquisa para o debate da escola, se puder me ajudar respondendo esse comentário) continuar lendo

Exatamente.

As vítimas e as famílias das vítimas não são obrigadas a serem usadas como simbolismo que deturpa o sofrimento a elas causado injustamente e gratuitamente para saciar seus instintos masoquistas. continuar lendo

A pena de morte precisa ser esquecida, desconsiderada.
E isso por mais que a desejemos, porque com certeza, muitas vezes ainda a desejaremos.
Mas ela representa apenas o nosso medo. Medo de não saber ou não conseguir lidar com aquilo que nos sufoca.
No fundo, é a realização de um desejo de vingança que nem de longe, representaria a justiça. Somos capazes de entender e pautar nossas atitudes dentro dos conceitos de certo e errado? Então precisamos entender que não é destruindo as matas que eliminaremos os incêndios. Matar por vingança é aceitar a incapacidade, o ódio.
Dentro do controle de nossas emoções, cabe buscar a compreensão e a razoabilidade.
Não se trata de culturas ou de leis mas sim de humanidade e evolução.
Se nunca desejei fazer justiça com as próprias mãos? Sim, muitas. Mas não fiz. continuar lendo

José Roberto,

Excelente resposta, faço minhas as tuas palavras!

E parabéns ao autor do artigo, tentou ser neutro e colocar o tema em debate. continuar lendo

Então para se ter um mundo mais humano e evoluido,é necessário a existência da empatia.Mas não seria contraditório e egoísta não pensar na dor que um indivíduo infringiu em alguem?a uma pesquisa feita há mais de 250 anos,que consiste na ideia de o porquê uma pessoa se torna ou não má,e isso é determinada pelo o'que esse indivíduo convive e suas relações com os outros.Logo nao seria melhor prevenir o mau,acabando-o desde a raiz?dando/criando uma sociedade melhor?acredito que sim!sim,devemos acabar com o mau pela raiz! continuar lendo

Snimes

Como eu disse, ainda sentiremos esse desejo por muito tempo.
Mas como espírita convicto, tenho minhas certezas de que na morte não se aprende o que a vida pode ensinar. continuar lendo

Desculpe pela franqueza, mas o senhor é hipócrita e não por acaso se baseia em religião.

Estudo Psicologia. Não vou me aprofundar porque não tenho tempo e energia para tal.

Mas caí do cavalo e quebrei minhas fantasias ao descobrir, estudando a fundo, que os famosos psicopatas são apenas 10% e os narcisistas são 10% dentre os criminosos mais perigosos ou que vão matar um dia. A imensa maioria é composta por gente sádica, perversa e cruel mesmo. Gente "normal", que caminha entre nós, e é má, desonesta, ruim TENDO CONSCIÊNCIA de que é ruim e PORQUE QUIS e DECIDIU ser ruim.

E essas pessoas se sentem livres para praticar todo tipo e nível de maldade, bastando ter a oportunidade propícia, como vários testes psicológicos na história revelam e comprovam. Aconselho que pesquisem.

Não podemos nem devemos ver criminosos como "vítimas" da sociedade, "pobres coitados" que "no fundo são bonzinhos". A maioria das pessoas que é traumatizada por agressões e violências não vai praticar o mesmo contra outras pessoas. Nada justifica o ato, embora possa explicar. Senão, todas as pessoas que são pobres e sofrem, sairiam por aí roubando, estuprando e matando.

Essa visão distorcida é originada pelo catolicismo que inversamente coloca a vítima (do assassino) como "mártir" cuja redenção deverá ser o "perdão" ao seu agressor e coloca o agressor como "pretenso anjo" cuja redenção virá com o "arrependimento".

Pessoas más matam por inveja, cobiça, ódio de quem tem algo que ela não tem. Em um país terrível como o Brasil, basta ter um tênis, chinelo, um cabelo A ou B, que você se torna alvo da visão maléfica de quem não o tem.

E as vítimas e as famílias das vítimas não são obrigadas a serem usadas como símbolismo que deturpa o sofrimento a elas causado injustamente e gratuitamente para saciar seus instintos masoquistas.

E não, nem todos os criminosos se arrependem. Sequer a minoria. E quando se arrependem, o fazem unicamente por si mesmos, porque foram presos, não pelas vítimas que foram MORTAS.

Novamente, porque sabem que não são condenáveis a mais de 30 anos e não há sequer o cumprimento total da pena, saindo com poucos anos pelo "bom comportamento"... é claro, sob a Força e o Poder do Estado, como todo covarde, depois de agredir, violentar e matar terceiros por aí quando eles próprios detinham a oportunidade do Poder e da Força.

O catolicismo e o protestantismo são dois entraves para o desenvolvimento real e pleno do Brasil. continuar lendo

Sr. Marcos Toni.
Não perguntei sua formação, mesmo porque estudo por si, não forma caráter.
Mas considerando sua pouca educação e respeito, sequer considero a possibilidade de perder tempo com questionamentos.
Li apenas a primeira llinha do que escreveu. A vida ensina. continuar lendo

Não me interessa saber se você leu uma letra, palavra ou linha do que comentei.

A princípio, pensei que leria, pois é o que se espera de quem escreve por aí e especialmente numa página séria como essa... QUE LEIA. E não apenas escreva.

Se nem isso é capaz - ler o contraditório -, pretende o quê exatamente nas redes sociais, sites e blogs como este, que trata de justiça, lei, direito?! Apenas publicar verborragias para ser "concordado" e afagar seu EGO IMENSO com pretensas verdades?

Você só tem pena de gente má, bandida, criminosa e prefere a negligência e condescendência do Estado para com elas porque você e seus familiares não foram vítimas... ainda. Não que eu lhe deseje, mas quem sabe a vida de ensina... antes os hipócritas que os conscientes.

E se não quer me poupar, se poupe, pois nem para torná-lo um sofista suas falácias pobres servem. continuar lendo

Se dessem 3 chances antes da pessoa ser condenada a pena de morte, jamais haveria a morte de um inocente.

Por exemplo esses chefes do tráfico, quando são presos tem várias condenações nas costas, com 3 condenações ou mais não tem como o cara ser inocente, é muito melhor e mais barato matar um lixo desses... continuar lendo

Olá...eu sou a favor,para ver se só assim poderemos ter um país de igualdades e de justiça. continuar lendo

Já acordou do senhor?? continuar lendo